quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Assassino

Já era sabido, estava arraigado e difundido.Era de entendimento público o que acontecia.Todo dia depois da noite era impossível não haver nova vítima, era esperado que um novo corpo fosse tomado.A mim pouco importava "Nunca acontece conosco" é o que sempre achamos e deixei- me ir pelos anos.

Um dia então, ou melhor, numa noite ao menos acho, só sei que se fazia escuro antes do acontecido.Furtivo e silencioso, divinamente imperceptível.Adentrou.Não sei por onde e como foi dado o início, as janelas se encontravam cerradas, portas trancadas alma calada.Com a cabeça no travesseiro e as cobertas sobre mim e nas paredes as sombras se lançavam distorcidas pela madrugada, sombras de nada.E eis que da sombra ele se levanta o Assassino tão famigerado, postado bem à minha cabeceira.Olhos fundos... Imensos me perdi neles, imóvel, estático, fixo eu fiquei.E lá parado ele desembainhava lenta e despreocupadamente sua adaga incrustada de morte...

Foi súbito o movimento e frio o metal cravado em mim, recebi conscientemente o golpe único em toda minha vida como só podia ser.Então ele puxa sua arma de minha carne, recua e abre a janela. O prata da lua agora se mescla ao carmesim de meu leito e as estrelas longínquas,primeiras testemunhas deste acontecimento brilham sem pudor.Era desnecessário se esconder e o Assassino com a missão concluída transformando mais uma ex-vida agora sai e se mostra para que todos saibam que fui atingido.O sangue caudalosamente faz seu caminho o cheiro do feito impregna tudo, a ferida aberta no meu peito não carece de leito.Permaneço vivo.Verdade seja dita fui apunhalado para realmente viver, depois da visita do Assassino sinto você nascer em mim e eu em você. O nobre Assassino se foi mas deixou para trás sua trilha: o sangue que gotejou.Cada pingo agora é motor do que nutro com furor.Como foi bom ser assassinado.

Passo a Passo

No passo a passo
Com os pés descalços
Caminhando duro
Até a beira do mundo
Na mochila tudo da vida
No coração tudo de você.

No passo a passso
Dei a volta em tudo
Já estou aqui de novo
Eterno e seguro.

No passo a passo
Descobri um rumo
Voltei a mim
No coração tudo do mundo
E na face sempre o sorrir.

Ele Foi por Aí

Cadê?Pra onde foi?
Todo o amor que pensei ter
Aquilo tudo que explodia
Antes de eu poder reconhecer
Era rápido, puro instinto
Era lento, puro prazer
Era tudo e já não é mais.
O tornado virou brisa
Soprando macia para me lembrar
Que se o amor se foi
Resta algo, alguma coisa ainda há
De haver para complementar.
Não é tristeza nem nada
Tem felicidade que não tarda
Há tudo menos amor
Este se perdeu.

Citação - Luiz Melodia


"Mesmo se tudo juntar por aí em nós, o só há de sempre existir"

(Luiz Melodia/Perinho Santana)



Ps.: Aderindo a uma certa inetertextualidade entre blogs

Poesia para Ninguém em Especial

Escrevi um verso glorioso
Com algumas rimas
E todo o sentimento
Só para dizer que te amo,
Mas lembrei depois
Do que tinha esquecido
Não há ninguém
Para dividir o verso comigo.
Um poema para ninguém em especial
É como água do mar sem sal
E eu quase já nem digo
Que é incompleto, mas sensitivo
Escrever sem olhar para ninguém
Estar aqui só comigo.
Há alguém especial muito além
Firme fato decidido
Redundante verso não omitido
Esqueci dos versos
Foram-se as rimas
Em ninguém em especial
Fiquei pensando
Sobre o papel deixei o lápis pairando
E fui esquecer de lembrar
Do sal que falta no mar.

Dois Dedos de Prosa

Tanto tempo passado e muito desde tempo junto contigo.
– Eu te amo - acabei soltando
– ... - ela retrucou
– ?
– Não fale, eu sinto e vivo.

..............................................................

Junto dela sem pensar em nada bem abraçados.
– Engraçado eu caibo exatamente no seu abraço - ela me diz
– Nele cabe muito mais.Por exemplo aquilo que sinto.
– Eu sei esse abraço cabe em mim.E também é recíproco.

E abraçados ficamos.

Rimas (Quase) a Esmo

A lua
Se mostrou na rua
Crua
O céu
Se revelou sem véu
Me senti um réu
Acusado
De estar enamorado
Te querer do meu lado
Sem tribunal
Para julgar esse mal
Não há um sinal
Para me dar a certeza
Sentir com clareza
Desconheço essa proeza
Mas no fim
É certo para mim
Que enfim
Nutro algum desejo
Maior do que tudo o que vejo
Mas não rimei a esmo.

Nossos Olhos

Para falar a verdade
Vou mentir mais uma vez
Quando digo que os olhares perdidos
Não se encontram em você
Itinerantes sem meu conhecimento
Meus olhos cruzam com os teus
Nem parece rápido mas é lento
A eternidade do fugaz momento,
Mas em teus olhos vejo
A inconstância maior do mundo
Muito além de mim e do desejo
Neles cabem tudo o que sinto.

PS.: Por que é tão bom falar de olhos?

Ali Anda Luz

Ali anda luz
Mesmo que não pareça
Ainda que se entristeça
Num dia que começa com espera
As pessoas ao seu redor sim,
Mas você não se estressa.

Ali anda luz
Se é certo o improviso
Errado não saber o dito
Numa apresentação
Ou vida afora no que for

Ali anda luz
Depois de tudo a certeza do riso
Acaba-se bem mesmo com turvo início
Às vezes inconseqüente o bom otimismo.

Ali anda luz
Há luz ainda
E vai haver
No centro de nossos olhos
Lá longe numa península
Em qualquer lugar basta acender.


PS.: Finalmente a cadeira de Civilazação Ibérica serviu para alguma coisa

O Ponto de Gostar

Se gosta e ponto
Sem necessidade de explicação
Joga-se fora qualquer reflexão
Sente-se assim de bate pronto
Todos os males benéficos no coração
E abandono a razão
Assim num instante
Estala-se os dedos e cá já esta
O irremediável gostar
Chega-se ao ponto
Que não é final
Mas que da início
Gostemo-nos, partilhemos esse vício!

Para Ela

Tentei pintá-la mas me faltaram cores
Quis desecrevê-la mas escassearam os detalhes
Pretendi nomeá-la não havia palavras
Achei de desejá-la sem pretensão de posse
E para exaltá-la escrevi estes versos
Quis amá-la e o fiz pela eternidade.

Outono

O outono chegou…
Não só para as árvores, mas também para mim
Não só a natureza, mas também meu coração
Se prepara para o nada.
Os meses calados e tristes
O silêncio sem as palpitações
Mas as raízes estão firmes
E muito mais virá
Debaixo do céu de outono
Vejo folhas caindo
E meu sentimento se ressentindo.